No cabo da Enxada
Não quero me sentir morto
Para não deixar a saudade
Em quem me ama de verdade
Não fui indiferente quando chegou à calamidade silenciosamente a minha cidade
Arrastando tudo com tremenda fúria e intensidade
Vou ajudar o meu próximo com amor e com saudade
Afagar na dor, e na salvação
Comemorar com meus irmãos
Que até diante da destruição
Não devemos virar as costas para os que soterrados estão
E um herói anônimo sem opção
Jogou uma corda para salvar
A dona e o seu cão
Diante do mundo
Boquiaberto de emoção
Dar esperança
Para quem dormiu com um teto sobre a cabeça
E acordou de madrugada
Vendo os seus entes queridos sendo levados pela correnteza
Partilhar com rápidas soluções
E nenhum momento permitir que se esqueça
Que muitos já estão na incerteza
Do ente querido que apareça
E sempre respeitar a natureza na dor e na tristeza
E um amigo fiel de cor caramelo
Tentava resguardar a cova rasa do seu dono
Coberta pelo barro amarelo
E proteger aquele que tantas vezes o levou para passear
E que nunca iria deixar seu verdadeiro amigo
Esquecido em algum lugar
Ter fé mesmo que tudo esteja na completa escuridão
Não se pode deixar para trás na destruição
Aqueles que desesperados estão
E diante daquela situação
Sucumbiram quatro de uma corporação
Seus esforços não foram em vão
Irão permanecer como ícones de uma nação
Não quero pensar!
Não quero sentir!
Eu quero agir!
E diante de tudo poder assistir
Uma criança sair ilesa com seu pai
Sem nada sentir
E mesmo apreensivo diante de todo o medo
Sabia que estava com seu herói e o aconchego
Que com a água da chuva e a saliva o hidratou em segredo
E mais um pai do outro lado
Numa decisão desesperada
Teve que ter a perna do filho quebrada
Para retirá-lo debaixo de pedra
E madeira traçada
E mesmo que a fome e o frio venham a insistir
Não juntaremos o que sobrou e partir
Pois, diante do que possa vir
Não desistiremos de ti
E lutaremos por você terra querida como um mártir
O gemido e a dor se juntaram a fé e o Louvor
Porque, seja o que for
Um menino vira homem para salvar a sua avó e também seu avô
O que falar?
O que fazer?
Veja para crer!
Diante dos meus olhos eu não consigo descrever
E que ainda está para nascer
Um ser humano que vendo isto
Não consiga se comover
Mesmo que para muitos não haja solução
Tenho plena certeza que dias melhores virão
Sempre acreditarei nisso através da oração
E a tristeza em vários rostos estampada
Um dia eu verei os lírios nascerem novamente
Na beira de uma nova estrada
Pois, tudo de ruim um dia irá passar
O ente querido no céu irá encontrar
A garganta seca e a dor no peito da perda
Com outros um dia dividirá o sagrado pão sobre a mesa
E você mulher eleita para presidente
Não permita que essa gente decente
Se torne parte de uma sociedade carente
E que não fique na mente
Que muitos serão enterrados como indigente
E que ninguém se sinta morto achando que é uma alma penada
Com coragem e o cabo da enxada
Voltaremos a construir novamente
A nossa querida cidade inundada.
"Este é meu alerta e homenagem a todos que perderam e perdem entes queridos em catástrofes naturais. E que todos nós sem nenhuma excesão, não deixemos que tudo o que aconteceu fique esquecido. E, principalmente as autoridades, não se esqueçam que outros Brasileiros de Norte a Sul, não fiquem a mercê da própria sorte."
Tony dy Carlo
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